quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Restauração de igreja revela história

00:00 · 27.08.2015 por Ellen Freitas - Colaboradora

Aracati. Construída num lugar ermo, datada do século XVIII, antes rota de passagens das charqueadas pelo interior do Estado, uma construção de mais de dois séculos conta a história de um povoado e até mesmo deste município, distante 170 km de Fortaleza. A Capela do distrito de Mata Fresca está sendo restaurada, com a coordenação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A obra, que devolverá seus traços originais, tem conclusão prevista para os próximos 45 dias.

Há pelo menos três gerações de sua família a história da capela da Mata Fresca é contada pela aposentada Terezinha da Silva Ferreira, a dona Tetê, de 67 anos. Ela lembra que seu avô já contava histórias da pequena edificação onde ela e seus irmãos frequentavam para ir à missa. "Eu demorei a andar porque tinha o joelho quebrado, vim andar com quase sete anos. Minha mãe fez uma promessa e todo domingo meu pai me colocava no lombo do burro e levava pra missa na Capela da Mata Fresca. Quando ela me viu andando foi uma alegria só", conta.

A aposentada relata, ainda, alguns costumes, como o de realizar batizados e velórios. O cemitério da comunidade se localiza ao lado da capela. Costumes esses que, segundo ela, são mantidos até hoje. A padroeira é a Nossa Senhora da Piedade (ou Das Dores, como também é chamada) e os festejos são realizados em setembro próximo, com data maior sendo dia 15. Dona Tetê espera que, até os festejos, a restauração possa ser concluída.

Restauração
A restauração da capela bem como as escavações realizadas é resultado de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Iphan e uma empresa de energia eólica, penalizada por cometer danos ambientais, tendo que custear o financiamento das escavações arqueológicas e a restauração arquitetônica da igreja.

Construída há quase 300 anos, capela na zona rural de Aracati guarda arquitetura antiga e ossada humana Para o Superintendente do Iphan no Ceará, Ramiro Teles, as escavações resultaram em um vasto material histórico que deverá, parte dele, ser exposto na própria capela. Ele destaca os elementos originais da edificação, que não são mais encontrados em construções mais recentes, como a edificação ser em pedra.

"Com a remoção do reboco, foram identificadas duas janelas, ninguém sabia quem existiam, é a única que nos conhecemos no Ceará que tem essa tipologia arquitetônica, destacou Teles, acrescentando que a Capela da Mata Fresca chega a ser mais antiga do que a própria Igreja Matriz de Aracati, sendo provavelmente construída pelos primeiros donatários que receberam as primeiras sesmarias e que também serviu de igreja que atendia ao município de Mossoró.

Primeiro registro da Capela é a realização de um batizado, datado de 1731. Atualmente o livro fica depositado na atual diocese de Limoeiro do Norte.

Crânios humanos
Dentre as descobertas nas escavações Teles evidencia a presença de três crânios humanos, onde ficava o antigo altar. "Muitas ossadas foram encontradas, mas não da pra identificar se todos são da mesma pessoa. Um destes crânios é de um bebe e este foi encontrado integro, entre 1 e 2 anos de idade, os demais estavam remexidos.", conta. Ele explica que enterrar indivíduos nas capelas era uma prática medieval, vinda de Portugal e que apenas no século XIX com as leis sanitaristas, os governos proibiram. No caso do Ceará a lei é de 1854, então pelo menos durante 120 anos as igrejas no Estado receberam sepultados.

Para o Gerente de Projetos da Arqueosocio, empresa responsável pelas escavações e restauração, Luis Mafrense, a estimativa é que até o mês de setembro as obras sejam finalizadas.
O Iphan também deverá construir resultante também de um TAC, o museu da localidade do Cumbe, também no município de Aracati. Implantação do parque eólico na comunidade causou destruição em vários sítios arqueológicos.


Fonte: Diário do Nordeste

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