terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Icapuí: Das praias daqui e de lá

Historiador lança, hoje, o livro "O ouro do mar", no qual relaciona a pesca artesanal local e global
As redes lançadas no litoral brasileiro carregam desafios semelhantes àqueles enfrentados no litoral português. É a história dos pescadores artesanais - que utilizam de pouco ou nenhum recurso auto-mecânico nas suas atividades - que toma forma num estudo comparado de conflito e cooperação das comunidades marítimas daqui e de lá, desenvolvido pelo jornalista, historiador e sociólogo Túlio Muniz em seu livro "O ouro do mar", a ser lançado nesta terça-feira, às 19h30, na Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará (Adufc).

O trabalho sintetiza a tese de Mestrado, concluída em 2005 no Departamento de História da UFC, e a dissertação de Doutoramento, apresentada na Universidade de Coimbra, em 2011. A intenção, nada simples: 'sociologizar' a História. Na busca, um primeiro encontro com a "guerra da lagosta", um conflito diplomático que, em 1963, envolveu o Brasil e a França numa contenda informativa e quase militar em torno do acesso à renda da pesca industrial da lagosta, o "ouro do mar", cuja exploração capitalista começara anos antes na costa nordeste do Brasil.

A segunda parte do livro, por sua vez, se debruça nas observações contemporâneas do autor sobre os reflexos do passado em comunidades marítimas do litoral cearense e português. De acordo com o historiador Álvaro Garrido, responsável pelo prefácio da obra, a pesquisa evita o excesso de representações etnológicas, que persistem nos discursos do mar.

"Túlio Muniz lançou a rede a um estudo de sociologia histórica das identidades pós-coloniais que tomou como territórios de comparação a vila de Redonda, em Icapuí, no Brasil, e a comunidade de pescadores de Silvalde, na cidade de Espinho, em Portugal", explica.

Garrido acrescenta, ainda, que a obra é crítica e militante, comparativa e intercultural. "O autor se empenha em desconstruir as relações entre o 'global' e o 'local', propondo uma crítica dos conceitos de regulação e desenvolvimento sustentável", reconhece no prefácio.

O "saber fazer"

A última reflexão desenvolvida na pesquisa de Muniz diz respeito ao potencial cognitivo e pedagógico que advém do "saber fazer" das populações de pescadores artesanais, quase sempre desconsiderado nas elaborações de políticas educacionais e macro-econômicas. É a partir desse gancho que o autor trabalha a proposta de "educação ecosófica", que vem, segundo ele, no sentido de reforçar e demonstrar a possibilidade desse encontro dos 'saberes bárbaros' com o saber pedagógico 'formal'.

Alicerçado no arriscado paralelismo da ecologia dos saberes de Boaventura Santos e da ecosofia de Guattari, Muniz propõe um diálogo intercultural. "Tal junção teórica só me foi possível no campo sociológico dos Estudos Pós-Coloniais, no qual não só é possível como necessário recorrer a diversas áreas do pensamento", atenta o autor.

Assim, Muniz propõe a "educação ecosófica" como uma possibilidade de eclodirem processos ético-políticos que mudem o modelo de escola atual, estreitando a relação das escolas com o mundo ao seu redor, do qual vem os jovens que nelas estudam.

Livro

O Ouro do MarTúlio Muniz

Annablume
2014, 252 páginas
R$ 30 (no lançamento)

Mais informações:

Lançamento do livro "O ouro do mar", de Túlio Muniz. Hoje (2), às 19h00, na Adufc (Av. Da Universidade, 2346, Benfica). Contato: (85) 3066.1818


Fonte: Caderno 3 – Diário do Nordeste (02/ 12/ 14)
Visto em http://revistalitoralleste.blogspot.com.br/

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