sábado, 15 de fevereiro de 2014

Icapuí: Praia de Ponta Grossa na mídia



Qual é a praia mais linda do Ceará? Muitos diriam Jericoacoara, com suas dunas e lagoas de águas azuis. Outros responderiam Morro Branco, das falésias labirínticas de areias coloridas. Alguns escolheriam Canoa Quebrada, a célebre praia boêmia da lua e estrela. Gosto cada um tem o seu, ainda mais quando as opções de escolha são tão boas e variadas. Pessoalmente, fico com a praia da Ponta Grossa, na costa leste cearense, próximo a divisa com o Rio Grande do Norte. Talvez nem todo mundo concorde. Até porque a grande maioria dos turistas que vão passar férias no Ceará ainda não conhece essa praia. É compreensível, pois ela fica distante, no município de Icapuí, a quase 250 km de Fortaleza. Mas não justificável, pois a praia é impressionantemente linda, com falésias avermelhadas e uma duna alta que derrama-se abrupta na beira-mar e serve de mirante natural para um por do sol tão belo quanto o de Jeri, ainda que nada famoso.
Os únicos visitantes, no entanto, costumam vir em passeios de bugueque saem de Canoa Quebrada, a 35 km dali, apenas para passar algumas horas. Quase ninguém fica lá. Dá para ter uma primeira idéia do lugar. Mas quem quiser entender a beleza da Ponta Grossa, e até sentir-se o dono dela, terá que passar um par de dias. O vilarejo próximo conta com algumas poucas pousadas, todas bem modestas, além de três barracas-restaurantes para comer peixes e frutos do mar frescos. E só. Não há guarda-sóis, nem joguinho de frescobol na areia, só uma dúzia jangadas ancoradas. Tampouco há madrugadas animadas com festas e forró. A noite na Ponta Grossa é agitada apenas pelo canto dos galos nos galinheiros. É uma praia como antigamente, com vocação para o descanso total.
Por do sol
A praia tem apenas um quilômetro de extensão. Não é reta e monótona, mas sinuosa, com as falésias em forma de meia-lua formando pontas salientes, de forma que de um dos extremos da praia não se vê o final. Quando a maré está cheia a praia é dividida em três e o mar vem bater nos paredões com agressividade. Nesse momento, não se pode atravessá-la caminhando. Na maré baixa, por sua vez, a areia batida fica molhada e reflete o dourado da duna e o vermelho dos paredões. O mar fica raso demais e pode-se caminhar com água até cintura por centenas de metros. Em 15 minutos de caminhada dá para atravessá-la por inteiro. E você pode fazer o caminho pela areia da praia ou pelo alto da falésia, para contemplá-la de diferentes ângulos.
Do alto do penhasco, as dunas estendem-se por centenas de metros continente adentro. Num dos trechos a areia escorrega para a praia formando a mais alta duna do litoral cearense, com 50 metros de altura. Nas falésias e nas rochas que brotam da areia as cores seguem uma paleta de tonalidades que vão do cinza, passando pelo amarelo, ao roxo escuro. À medida em que o olho explora as diversas tonalidades das pedras e descobre novos contornos nas falésias, a praia parece cada vez mais misteriosa e impactante. Se Marte tivesse praia, talvez fosse algo parecido com a Ponta Grossa.
A vila
No vilarejo vivem cerca de 250 pessoas.As casas ficam em direção ao canto esquerdo da praia, onde a faixa de areia alarga-se até o pé de um coqueiral que esconde as construções. Assim, quem está na praia não vê concreto algum, só as três barracas-restaurantes, que nem paredes têm, apenas coberturas de palhas e estrutura em toras de madeira. A luz elétrica chegou na vila em 1997. O asfalto foi bem depois, há apenas dois anos, vindo da vizinha Praia da Redonda.
Todos os moradores fazem parte de uma só família, os Crispim Pindú. "Seu" Jonas Crispim conta que, quando criança, nos anos de 1950, havia apenas quatro casas. "Meus avós tiveram 12 filhos e cada um teve mais 8 ou 10". Com isso, a família virou comunidade. Quase todos os homens tem nomes bíblicos: Misaac, Sidrak, Jeová, Josué, Joás... E muitos encontram-se na praia todas as manhãs quando saem de jangada para pescar. Mas o peixe não é mais tão farto quanto antes. "Tá pouco, mas acabar não acaba", diz Jonas.
Crianças no mar
Os pescadores saem pro mar cedinho, com o dia apenas clareando, e retornam por volta das oito ou nove horas. Se a jornada for boa, formam-se rodinhas na praia para ver o pescado da vez. Os compradores chegam de caminhonete pra buscar o peixe e revendê-los nas peixarias da vizinha vila da Redonda, ou em Icapuí. Um grande camurupim do peso de uma pessoa adulta, exposto numa jangada recém chegada do mar, costuma ser a notícia mais comentada da semana. É que nada de novo acontece por lá. Todo dia é igual na pequeno povoado. Um domingo é idêntico a uma segunda-feira que em nada muda de um sábado. Perde-se facilmente a noção do tempo e os dias na Ponta Grossa são dedicados a preguiça sem culpa. Os moradores falam com orgulho sobre a paz do lugar. Certo dia fiquei curioso em saber o que um deles pensava ao assistir na televisão um desses jornais de notícias sobre violência e o trânsito em São Paulo. "Abestado é quem tá lá", foi a resposta que ouvi.
As duas pousadas da vila oferecem conforto básico: ventilador, geladeira e televisão. Na Pousada Canaã, os quartos ficam defronte a um varandão comum, com redes e vista para a praia. Já na Pousada Crispim, alguns apartamentos oferecem ar-concidionado. O máximo de luxo que se pode esperar é um prato de lagosta grelhada servida nas barracas da praia. O ideal é que o visitante saiba ver luxo em coisas mais elementares, como na beleza das falésias, nas noites de céu estrelado e no banho de mar de cara para a grande duna. Pode ser até que você não compartilhe a ideia de que a Ponta Grossa seja a mais bela do Ceará. Mas se for pra lá, vai concordar que a praia é mesmo um show.
Cultura
O Pescador-arqueólogo
Outra curiosidade local em Ponta Grossa é a existência de diversos sítios arqueológicos que atestam para uma história de ocupação humana que começa nos tempos dos homens das cavernas e segue com a presença de navegadores holandeses no século 17. O autor da descoberta, atualmente reconhecida por pesquisadores do IPHAN, é o morador Josué Crispim, que certo dia, caminhando pelas dunas, encontrou uma pedra de formato estranho, que não parecia esculpida pela natureza. O pescador, encafifado, passou então a procurar por outros objetos parecidos, e não parou mais de encontrar: pedras lascadas e polidas por homens pré-históricos, cerâmicas indígenas e utensílios domésticos deixados pelos holandeses, como talheres de prata, cachimbos e garrafas grafadas com o nome "Amsterdan".
Cachimbo holandês
"Você vai ficar doido. Vai ficar velho carregando pedras, diziam pra mim", conta Josué. Mas o pescador insistiu até juntar num cômodo inteiro da casa simples uma enorme quantidade de objetos que encontrou a flor do chão. O sonho hoje é fazer um museu para expor as peças aos visitantes. Com a ajuda do amigo Ricardo Arruda, cineasta-produtor de documentários científicos, elabou um projeto para construir uma casa de cultura, ainda encalacrado pela burocracia e falta de apoio financeiro do IPHAN. Enquanto isso, Josué segue pescando o passado nas areias da praia. Corre as dunas aos finais de tarde e de longe bate o olho em qualquer artefato que possa ser um vestígio dos tempos remotos daquele pedaço do litoral cearense.
Os achados de Josué Crispim devem render a publicação do livro, em fase final de produção, "Praia da Ponta Grossa - Vestígios Arqueológicos da Ocupação Humana", que traz descritivos de todos os sítios arqueológicos da área e fotos dos mais importantes artefatos encontrados em cada um deles. Os textos são de autoria do arqueólogo Roberto Ayron, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e as fotos, de Gentil Barreira. O livro faz um alerta para o risco que a ocupação e a exploração econômica provocaria nos documentos materiais que o movimento das areias tem colocado em exposição sobre os vestígios das antigas nações indígenas. Um dos capítulos é dedicado a História da região, e conta sobre a surpreendente teoria de Tomaz Pompeu Sobrinho, antropólogo e historiador cearense, de que o espanhol Vicente Pinzón teria sido ele o primeiro europeu a pisar em chão brasileiro, mais precisamente no chão da praia da Ponta Grossa, poucos meses antes de Cabral atracar no litoral da Bahia, em exatos 2 de fevereiro de 1500. Teoria que é defendida no livro com trechos do diário de bordo da expedição de Pinzón.
Serviços
Ponta Grossa










Como Chegar
Embora seja associada a Canoa Quebrada, município de Aracati, a praia de Ponta Grossa pertence oficialmente ao litoral de Icapuí, que é outra cidade. Dede Fortaleza são 2 km até o centro da cidade, onde pode-se contratar um táxi para levá-lo. Também é possível ir a Aracati e lá tomar uma van ou táxi para Redonda.
Onde comer
As barracas servem boa comida caseira, e as especialidades são o Robalo frito e a porção de lagosta. Os preços nos cardápios não assustam. Um prato de robalo, por exemplo, com arroz, salada e feijão, sai a R$ 25 para duas pessoas. Com lagosta, a R$ 45.
Fonte: viagem.br
Visto em peixe Gordo News

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