quinta-feira, 1 de março de 2012

Revirando o baú da Educação de Icapuí – 25 anos da Escola Gabrie

Revirando o baú da Educação de Icapuí – 25 anos da Escola Gabriel


 


A Escola Gabriel no dia 09 de março completa 25 anos de existência, fundado no dia 09 de março de 1987, de acordo com o diário oficial. Surgiram no Município de forma acanhada, poucas salas de aulas e só funcionava a priori o fundamental, tendo como primeira diretora Maria Dione Soares. Hoje é a principal escola de ensino médio do Município e a única. Para mostrar como a escola Gabriel abraçou o Ensino Médio, precisei revirar o baú de antiguidades educacionais.
A Escola Mizinha, antigo prédio, guarda tantas histórias ali naquelas paredes insalubres, mas foi aí que tudo começou..., o poder Municipal bancava o Ensino Médio, hoje é obrigação do governo do Estado como determina a LDB. A Escola Mizinha a nível médio só oferecia o Curso Pedagógico, todos eram “obrigados” a cursar o pedagógico. Havia uma carência de professores no Município tanto para o fundamental e praticamente inexistia profissionais para o ensino médio.
Quando abracei a direção da Escola Mizinha me deparei com essa problemática, a escola só oferecia o curso pedagógico. A carência de professores para o ensino fundamental tinha sido suprida, o desafio agora era para o ensino médio, preparar professores para ensinar com nível superior. Os alunos da época me cobravam muito a abertura do Curso Científico, muitos não gostariam se envolver com educação até porque não tinham vocação, queriam alçar outras profissões.
Então abracei a causa de montar o curso científico a nível médio na escola Mizinha, a princípio foram muitos obstáculos, não havia professores qualificados e o Secretario de Educação avaliava que não era o momento ainda para montar o Curso Científico. Como a teimosia faz parte da minha personalidade continuei insistindo.
Fui ao Colégio Marista conversar com os professores de lá, tinha uma amizade com eles por ter sido aluno, professor e também por ter sido formando marista. Fiz o convite: querem ensinar em Icapuí? De imediato não me deram uma resposta, ficaram de se reunir entre eles e decidir. Depois de uma semana os professores já tinham uma resposta e uma proposta: uma casa para dormirem, pois viria à tarde de Aracati, dariam as aulas a noite e de manhã voltariam para lecionar no Marista; ajuda de custo pelo deslocamento Aracati-Icapuí; vale refeição e as passagens do ônibus.
Levei a proposta para o Secretario de Educação e antes procurei fazer a cabeça do prefeito para a importância da existência do curso, depois de muita peleja conseguimos montar.
Toda a equipe do Marista praticamente lecionava na escola Mizinha (Adalto – física, Pinheiro - matemática, Hercílio – história, de Icapuí, Raimundo José – Química, Maninho da Coelce – geografia e tantos outros ), tínhamos qualidade, avalio que naquela época os alunos eram mais interessados, é tanto que esses alunos que terminaram o Ensino Médio na escola Mizinha entraram na faculdade sem muitas dificuldades, porque estudavam, e hoje estão na frente da burocracia Municipal, das escolas Municipais lecionando ou dirigindo, ou advogam por conta própria.
Não satisfeito com o curso científico trouxe para Icapuí as inscrições da UERN – RN, incentivei, propus aos professores que os conteúdos fossem direcionados para o vestibular.  
Não sou vidente, mas fiz uma profecia, chegaria o dia que dois ônibus sairiam para Mossoró com alunos de Icapuí para a Universidade, muitos riram da minha ousadia e disse que eu estava louco, a profecia foi além do previsto, se não me engano são quatro ônibus. Hoje os trapalhões da educação perseguem um Cidadão(s) que fez história na Educação de Icapuí, mas o poder é efêmero e a história é perene.
Na minha época de Universitário eram poucos os que tinham esse sonho de cursar uma Universidade, achavam que Universidade era pra rico. As dificuldades eram enormes, íamos numa Kombi velha até o triângulo e lá pegávamos o pessoal de Aracati, hoje as coisas são tão fáceis em Icapuí que não lembram que por trás dessas ações existiu alguém que criou e deu vida por ter tido um olhar além do senso comum.
A Escola Gabriel o grupo gestor estão resgatando a história da escola, precisam saber que o curso científico começou no Mizinha, hoje se encontra na Escola Gabriel. Se não tivesse alguém que tivesse idealizado esse sonho será que existiria uma Escola Gabriel com ensino médio? Talvez...
As pessoas de Icapuí precisam valorizar mais os profissionais que tanto tempo trabalham nesse Município, mudar a forma de interpretar a história, abrir espaço para os que não aparecem de frente porque não são políticos e nem tem dinheiro, essa história tradicional de mostrar os poderosos como construtores da história foram banidos da historiografia crítica, cabe aqui uma reflexão do Bertolt Bret:
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?”
Os que estão de bem com a vida hoje, deveriam se lembrar dos seus antigos mestres e se perguntar:
 Foram os políticos que montaram o curso científico?
 Foram eles que trouxeram as inscrições do vestibular para Icapuí?
 Foram eles que ensinaram?
Tantas histórias
Quantas perguntas
          ...

3 comentários:

  1. Eu sou do tempo que nem ponte sobre o rio arrombado existia. O Dirigente Municipal de Educação tinha que ir de bicicleta (pq o carro da educação era o único do municipio, e diga-se de passagem, atendia até à polícia local) até a beira do rio e atravessá-lo a nado, com a merenda e material escolar sobre uma pequena e improvisada "balsa", para diminuir, um pouco que fosse, a carência daquele hoje distrito. O círculo de cultura Paulo Freire, como era chamado a educação de jovens e adultos na época, funcionava até embaixo de uma mangueira que tinha no meu quintal, pq na cidade ainda não tinha estrutura física. Portanto, quem vem trazendo escola (no sentido mais amplo) para Icapuí são os verdadeiros interessados no crescimento do povo desta cidade, se são "trapalhões"??? O povo ha de saber.
    Ah, parabéns a Dione, Edmilson(em memória), Diumberto, Raimundo José, Dona Lurdes, Edneuza e mtos outros que participaram da criação e lutaram pelo reconhecimento da Escola.

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  2. Concordo com a Marise. O Ensino Médio (2º grau, como chamávamos) de Icapuí não é, nem nunca foi, filho de um só pai, ou mãe, embora como ex-aluno reconheça e agradeça de coração a inestimável colaboração do amigo professor autor.

    Quando penso naquele tempo a primeira imagem que me vem à cabeça é de Augusto Jerônimo com uma vasta cabeleira comandando um grupo de guerreiros e guerreiras na luta pelo Ensino de 2º Grau em nossa terra (Lembra do OME - ´Órgão Municipal de Educação? ).

    Parabéns ao autor do texto e a todos até aqui mencionados, além de outros tantos que ministravam aulas até no pátio mesmo da escola Mizinha, pois não havia espaço físico em salas (Dedé Teixeira, Luis Teixeira, Wilson Cirilo, o Médico Isaac Pedro Teixeira, a Zenilse Félix, a Edinha Teixeira, a Malene das aulas de Francês, a Raimundo Monteiro, Aerson, Aldecir, ... ih! são tantos que não caberia aqui), e muito obrigado pelo que fizeram por e mim e tantos outros jovens daquela época difícil, mas que tenho saudades sim. Nos forjaram os homens e mulheres, com defeitos, porém dignos e trabalhares responsáveis de hoje.

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  3. Não participei da implantação do curso pedagógico e sei das dificuldades que eram muitas e esses guerreiros venceram. A minha participação foi na implantação do curso científico que aconteceu na minha gestão, foram tantos que participaram que não me atrevo a enumerar, porque são muitos.Porém nessa história os professores de Aracati tiveram sua parcela de contribuição.

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