segunda-feira, 19 de março de 2012

Maria da Penha vai às telas

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A produtora Elisa Tolomelli: "A gente trabalharia com a luz daqui, que é diferente da luz do Rio de Janeiro, com a arquitetura local e também com parte da equipe cearense"
FOTO: ALEX COSTA
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Maria da Penha: história da vida e da luta da militante cearense contra a violência doméstica já virou livro, cordel e documentário. Agora, caminha para chegar aos cinemas num longa com trilha de Milton Nascimento
FOTO: ARMAZÉM DA CULTURA
Longa promete contar a história da cearense que deu nome à lei pioneira na proteção da mulher contra a violência
Em setembro de 2006, entrou em vigor no País uma lei que aumentava o rigor das punições às agressões contra a mulher ocorridas no âmbito familiar. Trata-se da lei número 11.340, mas poucos a chamam assim. Ela ficou bem mais conhecida como Lei Maria da Penha, considerada pioneira na defesa dos direitos da mulher.

O começo dessa história que levou o Brasil a legislar sobre a violência doméstica deve chegar aos cinemas no próximo ano. O enredo se debruça sobre a luta na Justiça da biofarmacêutica cearense Maria da Penha Fernandes pela condenação do ex-marido - acusado de tê-la deixado paraplégica com um tiro nas costas em uma tentativa de assassinato.

O projeto do longa nasceu do interesse da atriz e produtora Naura Schneider em levar às telas a temática da violência doméstica. Ela, que já havia protagonizado "Dias e Noites" (2008), de Beto Souza, sobre uma mulher que sofre agressões do marido, iniciou a produção de um documentário sobre o assunto, "O Silêncio das Inocentes" (2010), e acabou conhecendo Maria da Penha.

"Depois de ´Dias e Noites´, muitas mulheres, inclusive desconhecidas, me procuraram para contar seus casos. Eram muitos casos, muito mais do que eu imaginava. Daí veio a ideia para o documentário. Comecei a gravar os depoimentos e acabei chegando à Maria da Penha, conheci toda a história dela e vi que a maioria das pessoas conhecia a lei, mas não a mulher por trás dela", explica Naura.

Naura adquiriu os direitos autorais sobre o livro "Sobrevivi... Posso contar", escrito pela própria Maria da Penha em 1994 e reeditado em 2010 pela editora cearense Armazém da Cultura. Na obra, ela conta sobre sua vida, mas o roteiro do filme se detém sobre o período entre 1978 e 1991. São dois marcos em sua história: os anos em que ela conheceu o marido, no mestrado em São Paulo, e quando ele foi condenado pela Justiça.

Obra em construção
O responsável pela adaptação é José Carvalho, que já esteve na equipe de roteiristas de "Como Esquecer" (2010) e "Bruna Surfistinha" (2010). A equipe ainda sendo montada. No elenco está definida apenas a protagonista, a própria Naura, que se tornou amiga de Maria da Penha durante o projeto do filme. A trilha sonora original também já está acertada e ficará a cargo do cantor e compositor Milton Nascimento.

Sem querer entrar em detalhes sobre as negociações com atores e diretores, ela adianta apenas que a intenção é fazer de "Maria da Penha" uma ficção baseada em fatos reais, um drama pessoal pontuado por cenas de suspense e de tribunais.

Produtora
Após um atraso se seis meses para o início da produção, a expectativa é que as filmagens sejam iniciadas em setembro. A ideia de Naura é trazer a produção do Rio de Janeiro para Fortaleza. Por isso durante os últimos dias, a produtora executiva Elisa Tolomelli percorreu gabinetes públicos e privados em busca de recursos para passagens, hospedagem e contratação de equipe local.

Na bagagem, Elisa trouxe o extenso currículo de mais de 15 anos trabalhando em produção de cinema, com sucessos como "Central do Brasil" (1998), de Walter Salles Jr., e "Cidade de Deus" (2002), de Fernando Meirelles. Além disso, tinha na ponta da língua uma lista de argumentos de ordem artística e financeira. A produção foi autorizada pelo Ministério da Cultura a captar R$ 5 milhões por meio das leis de incentivo.

Para Elisa, o filme ganharia em autenticidade com a filmagem em Fortaleza - cidade onde Maria da Penha nasceu, passou boa parte da vida e sofreu o crime que mudaria seu destino. "A gente trabalharia com a luz daqui, que é diferente da luz do Rio de Janeiro, com a arquitetura local e também com parte da equipe cearense, seu sotaque", diz.

Ela aproveitou a passagem por Fortaleza, para visitar os cursos locais de Cinema e Audiovisual com o intuito de envolver a comunidade cinematográfica local no projeto. A exemplo do que aconteceu em suas produções anteriores, a proposta é gerar outros produtos agregados ao filme, como oficinas artísticas e documentários sobre a produção. "O dinheiro recebido aqui seria gasto aqui", observa.

Por enquanto, o filme vem sendo chamado de "Maria da Penha", mas pode ter seu nome modificado para facilitar a distribuição no mercado internacional. "Acreditamos que esse filme tem um caminho a seguir no exterior. A violência contra a mulher não é uma questão brasileira, mas internacional, e a Maria da Penha é um dos nomes mais representativos na luta pelos direitos humanos no mundo", comenta Naura.

A história de luta de uma sobrevivente
Em 1983, Maria da Penha Fernandes recebeu um tiro de seu marido, Marco Antônio Heredia Viveiros, professor universitário, enquanto dormia de bruços. Como sequela, perdeu os movimentos das pernas e se viu presa em uma cadeira de rodas. Seu marido tentou acobertar o crime, afirmando que o disparo havia sido cometido por um ladrão. Nada havia sido roubado ou revirado na casa.

Após um longo período no hospital, retornou para casa, onde foi mantida em cárcere privado e sofreu uma nova tentativa de assassinato. Ela saiu de casa, com as três filhas, e começou uma luta judicial que levou Marco Antônio a prisão em 2002, apenas seis meses antes da prescrição do crime.

LIVRO
Sobrevivi, Posso Contar
Maria da Penha
Armazém da Cultura
2010, 203 páginas
R$ 54

MÔNICA LUCASESPECIAL PARA O CADERNO 3

Fonte: Diário do Nordeste

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