quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Obras de contenção do mar iniciam em Icapuí

Trabalhadores e máquinas constroem o "bag wall", um muro que vai enfrentar o aumento da maré

Icapuí Retirada de areia e colocação de pedras onde só havia ondas e a esperança de vencer o medo chega aos moradores da Barrinha, no Litoral de Icapuí. As obras de contenção do avanço do mar tiveram início e a intenção é que as águas não continuem a "engolir" as casas e escolas das comunidades. Durante todo o dia, trabalhadores e máquinas constroem o "bag wall", muro que vai enfrentar o aumento da maré. Os recursos de R$ 2,3 milhões (dos quais 60% foram depositados na conta da Prefeitura no início do ano em caráter de urgência) agora devem ganhar destino certo, após burocracia e lentidão da Prefeitura em entregar todos os documentos necessários. Também serão construídas casas para famílias que foram removidas da área de risco. Mas a seleção de beneficiários ainda não foi resolvida. A obra deve durar seis meses.

 Quando a maré aumenta, as ondas fazem estrondo maior,
e a imensidão do mar vai ao encontro de casas. No ano
 passado até o Centro Educacional Telina Maria da Costa
foi destruído. FOTOS: MELQUÍADES JUNIOR
 O mês de janeiro, quando é comum se renovarem as esperanças de um ano novo é geralmente o mês de se recuperar o medo para comunidades dos povos do mar em Icapuí. O medo da maré. Quando essa aumenta muito, as ondas fazem estrondo maior, e a imensidão do mar vai ao encontro de casas e no ano passado também foi ao encontro do Centro Educacional Telina Maria da Costa, a escolinha da comunidade. O mar derrubou o muro, deu na janela da sala de aula, e para que a convivência com o risco não fosse maior a Prefeitura teve que demolir o resto. Casas também foram ao chão e, com elas, as lágrimas de quem nasceu e morou há muitas décadas de frente para o mar.

Isoladas e desoladas, famílias tiveram que se arrumar como dessem. Uns foram para a casa de parentes, outros apertaram ainda mais o orçamento para morar de aluguel, e outros, como Marinete Rodrigues, sem dinheiro e sem parente de alternativa, improvisaram abrigos.

Em fevereiro deste ano, o Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), liberou, em "caráter de urgência", aproximadamente R$ 1,3 milhão para a Prefeitura de Icapuí. O valor total a ser liberado é de R$ 2,3 milhões. A liberação ocorreu um mês depois que dezenas de moradores viram suas casas irem ao chão depois de serem condenadas e arrastadas pela fúria do mar. Por erro técnico de equipe do Ministério e, depois, burocracia da administração municipal de Icapuí, só agora a obra sai do papel.

Uma das falhas foi a não realização do Relatório do Impacto do Meio Ambiente (Rima), lembrado depois que a Superintendência do Patrimônio da União no Ceará (SPU) disse que só autorizava a obra diante do estudo de impacto que a Prefeitura deveria ter feito antes mesmo da liberação do dinheiro pelo MIN. O superintendente Carlos Jean de Almeida Saraiva só foi informado da obra do "bag wall" por meio da matéria publicada no Caderno Regional. Sendo a área de domínio da União, antes do início da obra, a SPU deve receber (além do estudo de impacto ambiental) o projeto, comprovante de existência de dotação orçamentária para execução do projeto, planta e memorial descritivo da área.

Aplicação

A liberação do recurso pelo MIN, por sua vez, também sofreu demora devido falha da equipe técnica ministerial que fez a primeira visita ao local. O recurso total da obra, assinado em Termo de Compromisso pelo então prefeito José Edilson (atualmente encontra-se com o mandato cassado) é de R$ 5,1 milhões. E o Plano de Trabalho sobre o que fazer com os primeiros R$ 2,3 milhões ficou definido assim: R$ 525 mil para reconstrução de unidades habitacionais familiares, R$ 197 mil para reconstrução de estrada vicinal invadida pelo mar e R$ 1,5 milhão para construção de 1Km de muro de contenção.

Em parte da área onde casas foram demolidas, são erguidas 30 residências, financiadas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. Vai abrigar vítimas do avanço do mar. De acordo com o vereador Lacerda Filho, líder do então prefeito na Câmara Municipal, devem ser construídas 15 casas.

MAIS INFORMAÇÕES

Prefeitura do Município de Icapuí
Litoral Leste do Estado
Telefone: (88) 3432.1148

MEDO
Avanço em Beberibe ainda está sem solução

Beberibe O avanço do mar é um problema com solução distante no Município de Beberibe. Desde o início do mês as fortes ondas na Praia de Parajuru tem destruído barracas e derrubado muros de prédios. A natureza pede espaço, engole casas, e os moradores fazem uma ação comparável a "enxugar gelo", paliativa e de resultado efêmero, mas que foi a única saída encontrada: depositar areia, anéis de cimento e fazer uma cerca com troncos de coqueiro. De ontem até amanhã, o horizonte aponta maré alta, o firmamento indica a lua nova, e tem comerciante que presta atenção dia e noite como quem espera a hora em que o mar virá. Governos Estadual e Federal não iniciaram qualquer intervenção sobre o problema, e a Prefeitura de Beberibe limitou-se a entregar sacos para que os moradores coloquem a areia.

Trabalho

Os moradores colocam sacos de areia para tentar
conter o mar. Até agora, nenhuma saída foi
apresentada
Os moradores e comerciantes da Praia de Parajuru fazem o que podem para que o mar não continue engolindo as construções. Da primeira semana de setembro até agora foram 59 manilhas de cimento e aproximadamente quatro mil sacos de areia colocados entre o mar e a vila. Os donos de barracas sabem que venderão menos coco, pois tiveram que arrancar os coqueiros e, dos troncos, fizeram uma cerca de aproximadamente 60 metros.

"Mas a gente sabe que o mar é maior. Estamos vendo como fica daqui para quinta-feira, porque a gente vai colocando a areia, e quando o mar vem com tudo, a gente fica fazendo a manutenção, colocando areia de novo", afirma Valbízio Garcia, dono de barraca.

Ele reclama que, à exceção do apoio da Prefeitura com sacos de areia, o poder público estadual ou federal não compareceu ao local. "A gente sabe que se aqui tivesse um potencial turístico grande talvez tivessem mais interesse em resolver", afirma o comerciante.

Melquíades Júnior
Repórter

Fonte:http://diariodonordeste.globo.com

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