sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A disputa política tem limites

Matéria extraída do Jornal O POVO em 16/09/2011 

Em entrevista ao O POVO, publicada em 28 de julho de 2006, Lacerdinha admitiu que recebeu propina

O circo armado na sede do PSB cearense ultrapassou qualquer limite admissível da democracia. Trancar a sede, negar acesso aos filiados e obrigá-los a se reunir no meio da rua, sob chuva de ovos e xingamentos: isso não é política. É baixaria pura e simples. A disputa interna é legítima e saudável. Mas os métodos se mostraram deploráveis. Não resta a menor condição para a convivência interna entre os grupos. Se alguma das partes não deixar a legenda, será imprescindível mediação de negociadores neutros, para evitar que a rota seja irremediavelmente autofágica. A um ano das eleições municipais, o PSB de Fortaleza atravessa crise com lugar privilegiado entre os maiores conflitos partidários da história cearense pós-redemocratização. E já é, provavelmente, a briga com mais ingredientes rocambolescos. A divisão do PT, anterior à eleição de Luizianne Lins, e o racha do PSDB entre Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara - origem da derrocada do partido - soam como tratativa entre lordes, perto da escatologia pela qual atravessa o PSB.

OPERADOR DA MÁFIA DOS SANGUESSUGAS RECEBIDO COM FESTA NO PMDB
 O dia hoje será movimentado na política de Icapuí. O vereador Raimundo Lacerda Filho está de saída do PSDB e promove festança das grandes para sua filiação ao PMDB. Lacerdinha, como ficou nacionalmente conhecido, é líder na Câmara Municipal do prefeito José Edílson da Silva (PSDB), o irmão Edílson. Aliás, é também sobrinho do prefeito. Em 2006, tornou-se um dos personagens centrais da política brasileira, com atuação destacadíssima em um dos maiores escândalos do governo Lula: a máfia dos sanguessugas.

O esquema foi um dos mais amplos já descobertos na história do Congresso Nacional. No fim de agosto deste ano, chegou a 112 o número de congressistas e ex-congressistas de alguma forma envolvidos. A cifra ultrapassou a casa dos R$ 100 milhões. A rede criminosa fraudava licitações para a venda superfaturada de equipamentos hospitalares – ambulâncias, principalmente. O dinheiro vinha de emendas parlamentares destinadas a municípios do Interior, no Brasil inteiro. Em conchavo com os prefeitos, garantia-se que a vencedora dos certames fosse a empresa Planam, de Luiz Antônio Vedoin. Flagrado pela Polícia Federal, o empresário acabou denunciando todo o esquema. E aí surgiu Lacerdinha.

O hoje vereador era assessor do então senador Luiz Pontes (PSDB). Em entrevista ao O POVO, publicada em 28 de julho de 2006, Lacerdinha admitiu que recebeu propina da Planam, depositada em sua própria conta. Segundo Vedoin, o hoje vereador articulava as fraudes em nome de outro tio, o atual deputado federal José Airton Cirilo (PT), apontado como um dos mentores do esquema. O sobrinho explicou, contudo, que usou o nome de Cirilo indevidamente e sem autorização, para conseguir acesso a Vedoin. Mas o empresário narrou detalhes de encontros que teria tido com o próprio deputado federal e rebateu que o nome do petista tivesse sido usado sem consentimento do próprio.

O empresário descreveu reuniões, em março de 2003, no flat no qual José Airton morava em Brasília. Além disso, o hoje deputado teria se reunido com o ministro da Saúde, Humberto Costa, e obtido a liberação de R$ 8 milhões, referentes a pagamentos atrasados por ambulâncias vendidas pela Planam. Ainda segundo o depoimento, a propina acertada com o parlamentar teria sido de 5%. Após essa primeira liberação, Zé Airton passou a mediar a liberação de recursos para mais 20 prefeituras. O deputado teria viabilizado o pagamento de R$ 2 milhões, com 15% de propina, paga por intermédio de Lacerdinha. Zé Airton sempre negou qualquer participação no esquema.

O convite distribuído por Lacerdinha para a filiação anuncia como confirmadas as presenças do próprio Zé Airton, do presidente do PMDB, senador Eunício Oliveira, do coordenador da bancada cearense em Brasília, deputado Arnon Bezerra (PTB), do secretário estadual da Pesca, ex-deputado federal Flávio Bezerra, e do prefeito Irmão Edílson. Ele se elegeu vereador em 2008. Com 1.007 votos, foi o mais votado de Icapuí. E é um dos cotados para concorrer a prefeito em 2012.

BIG BROTHER ESCOLA
O deputado estadual Tin Gomes (PHS) apresentou projeto de indicação que pretende tornar obrigatória a instalação de câmeras de vigilância nas escolas da rede pública do Ceará. A obrigatoriedade abrangeria creches e estabelecimentos estatais de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. O objetivo é permitir aos pais ou responsáveis o acompanhamento das áreas frequentadas pelos estudantes. A proposta prevê que as imagens sejam transmitidas, em tempo real, no site da Secretaria da Educação do Estado. O acesso seria restrito aos pais ou responsáveis, mediante senha.

Como se trata de projeto de indicação, mesmo que aprovado, trata-se apenas de sugestão ao governador Cid Gomes (PSB), que, se gostar da ideia, poderá encaminhar projeto de igual teor para, mais uma vez, ser votado pelos deputados e, só aí, caso aprovado, virar lei.

Como o Governo não chega a acordo nem para pagar professores, é improvável que sobre dinheiro para o “Big Brother” educacional.

Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br

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