sábado, 16 de julho de 2011

Fluxo migratório se inverte e cearenses retornam para casa

Em 2009, número de imigrantes ficou abaixo do total de emigrantes. Desenvolvimento é apontado como fator
De 2004 pra 2009 mudou o fluxo migratório: mais pessoas passaram a chegar ao Ceará do que sair, por causa do desenvolvimento (FCO FONTENELE)De 2004 pra 2009 mudou o fluxo migratório: mais pessoas passaram a chegar ao Ceará do que sair, por causa do desenvolvimento (FCO FONTENELE)
Em 1996, a morte da mãe solteira foi o que faltava para a jovem de 27 anos decidir pela partida. Zarpou de Juazeiro do Norte, no Cariri cearense, rumo a São Paulo. Consigo, levou apenas as duas maletas onde cabiam as poucas mudas de roupa. E um coração cheio de sonhos. “Com ela, tudo era difícil. Mas dava pra se virar. Quando a gente ficou sozinho, tudo piorou. Meus irmãos casaram e eu saí achando que ia subir na vida, porque todo mundo falava que lá era melhor”, lembra.

Treze anos depois, o retorno. E o coração ainda cheio de sonhos, apesar das frustrações. “Foi até bom. Eu tinha casa pra limpar toda semana. O problema é que era tudo muito caro. Não sobrava muito pra estudar”, acrescenta a doméstica. Voltou e está perto de realizar o desejo da mãe. Como vendedora, ganhava mais e banca o curso de Administração.

O ir e vir da garota foi similar ao de outros 98.072 cearenses que descobriram na terra natal a possibilidade de (re)começar. Com isso, o número de emigrantes em 2009 superou o de imigrantes no Estado - 93.740.

Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considerou o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) daquele ano e de 2004, além do Censo 2000. O estudo concluiu que o fluxo migratório mudou em todo o País. O Nordeste, contudo, foi a Região com o maior retorno de migrantes.

Algo explicável se considerados os altos índices de desenvolvimento e geração de empregos formais (carteira de trabalho assinada) em estados até então em negativo nesses quesitos.

A inversão da rota começou em 2000 e intensificou-se em 2004. “Não é que São Paulo e Rio de Janeiro (os principais destinos) tenham perdido em atrativos. Mas outras localidades começaram a ter investimentos que geraram empregos e passaram a segurar a população. É um fator positivo”, aponta o analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Cleyber Medeiros.

Segundo ele, o fato de a entrada de pessoas superar a saída pode ter reflexo até no Produto Interno Bruto (PIB) cearense. Em 2010, a economia cearense cresceu 7,9% em comparação com 2009. A taxa ficou acima da média nacional - de 7,5%. “Fluxo menor de imigração significa que há dinâmica na economia. E, consequentemente, oportunidade de empregos”, acrescenta o especialista.

NÚMEROS 

98mil

PESSOAS
entraram no Ceará vindas de outros estados brasileiros em 2009.

93mil

PESSOAS
saíram do Ceará em direção a outros estados brasileiros em 2009.
Bruno de Castro 
brunobrito@opovo.com.br

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