quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pescadores de lagosta voltam ao mar após defeso

Publicado em 2 de junho de 2011 
   
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Praia do Mucuripe: com o fim do período de defeso, cerca de 80 embarcações partiram, na madrugada de ontem, em busca da captura do crustáceo no litoral cearense
FOTO: TUNO VIEIRA
Presidente de associação denuncia que embarcações realizam pesca no período de reprodução do crustáceo
Os pescadores que trabalham na captura da lagosta comemoraram os minutos iniciais do dia 1º de junho de 2011, no Cais Pesqueiro do Mucuripe. Data que marcou o fim do período de defeso e consequentemente liberou a pesca do crustáceo.

Antônio Ferreira de Menezes, 62 anos, considera longa a jornada para poder largar na luta pela sobrevivência.

"Foram seis meses de espera, uma eternidade. Desde os 15 anos, que trabalho com pesca. Não sei fazer outra coisa, além do mais o que faço também me dá prazer, disse. A primeira viagem do ano sempre é a mais aguardada, pois com ela, nós temos a ideia se o ano será ou não bom", afirmou o pescador.

Sobre a possibilidade de uma boa temporada de pesca, seu Antônio, embora confiante, em virtude das fortes chuvas caídas durante a quadra invernosa, que segundo ele, favorece em muito a concentração da espécie, argumenta que sua atividade já não é a mesma.

"Nas décadas de 80 e 90 era muito rentável, passávamos pouco tempo embarcados e quando retornávamos à terra era com a capacidade máxima de carga do pescado no barco e a certeza de ganhar um bom dinheiro, mas hoje em dia, já não podemos esperar o mesmo", acrescentou.



"A lagosta tem para todo mundo, desde que pescada nas condições permitidas, mas o que ocorre é diferente, são capturados crustáceos de todas as formas, chegam a raspar o fundo do mar. Quem trabalha direito, fazendo tudo como a lei manda, encontra sim, é muita dificuldade", completou.

Medo
O pescador Carlos Alberto de Arruda, 40 anos, enquanto tratava de esgotar a água acumulada no barco se dizia feliz por finalmente poder iniciar viagem.

"É a profissão que escolhi, o barco é minha segunda casa e o mar, o local onde consigo o que falta para continuar vivendo e sustentar minha família", disse.

Apesar do entusiasmo e da experiência de 15 anos já nessa atividade, ele afirma que este tipo de trabalho ainda consegue lhe meter medo.

"Nunca se sabe o que poderá acontecer, estamos correndo riscos sempre. No mar tem muito mistério escondido, só nos resta confiar em Deus e pedir para que nada de ruim possa nos acontecer", finalizou.

O clima da volta ao mar para a atividade pesqueira tem o outro lado que é marcado pela preocupação com o fator econômico e pela indignação com a falta de fiscalização.

Crise
O presidente da Associação dos Pequenos e Médios Armadores de Pesca de Fortaleza(Aspemarf), José Newton Barreto, que está no ramo há 25 anos, afirma que a pesca da lagosta, que já viveu "anos de ouro" com o Estado se consolidando como o maior exportador do produto do País, hoje passa por uma intensa crise.

"Só para se ter uma ideia, tínhamos no fim dos anos 80 e início da década de 90, em torno de 15 empresas que comercializavam lagosta no Estado. Atualmente há somente seis empresas", exemplificou o dirigente da Aspemarf.

Barreto lamentou a inexistência de uma medida econômica que divulgue a cotação de preço da lagosta para a venda no mercado local.

"Entramos na nova safra, investimos alto para colocar a embarcação no mar, no entanto, não sabemos o preço do quilo de lagosta e nem tão pouco por quanto iremos vendê-la. Acredito que o governo poderia dar mais importância a esta atividade econômica", justificou.

Não é só o problema da fixação de preço que aflige o gestor da Associação, a existência de uma fiscalização mais eficaz também lhe causa indignação.

"É lamentável que uma atividade que emprega centenas de pessoas e contribui para o sustento de famílias cearenses sofra com o descaso da fiscalização. Sabemos que o Ibama alega falta de condições para fiscalizar. Entretanto, enquanto aguardamos o dia certo, sabemos que muitas embarcações já se encontram pescando, descumprindo o período de defeso e o mais grave utilizando mecanismos considerados fora do permitido", completou.

ADALMIR PONTEREPÓRTER

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