Praia de Barreiras um dos locais mais prejudicado com o avanço do mar em Icapuí. Foto: Ivan Souuza (em 28/11/2012) |
As
alterações observadas no litoral do Ceará, principalmente o avanço do mar, são
frequentemente interpretadas pelo senso comum como uma consequência direta do
aquecimento global e das intervenções humanas. Para muitas pessoas, ambos os
fatores estariam aumentando o volume do mar ou desviando a força das ondas,
causando a destruição das praias. À luz da ciência, no entanto, a explicação não
é tão simples quanto parece.
Segundo
Alexandre Medeiros, geólogo do Instituto de Ciências do Mar (Labomar),
instituição vinculada à Universidade Federal do Ceará (UFC) e autor do estudo
“Controle tectônico na morfodinâmica costeira de Icapuí”, o litoral do
município, uma das áreas onde tem sido observado um preocupante avanço do mar
sobre casas e barracas de praia, a explicação para o fenômeno vai muito além do
aquecimento global ou da ocupação da faixa litorânea por grandes obras. Na
verdade, o que acontece por lá é uma conjunção de fatores relacionados com
aspectos geológicos, a dinâmica dos ventos e a própria estruturação da bacia
sedimentar que existe na região.
Apesar
do território brasileiro ser localizado sobre uma base de terrenos muito antigos
e relativamente estáveis, ainda há movimentação de placas tectônicas (porções
formadoras da crosta terrestre) no processo de afastamento entre os continentes
americanos e africanos. As conseqüências vão dos pequenos tremores em Sobral e
na serra da Meruoca às mudanças estruturais pouco perceptíveis que ocorrem no
litoral, principalmente em regiões de bacias sedimentares, a
exemplo de Icapuí.
No
litoral que compreende as praias do entorno do município – entre elas algumas
bem famosas como Ponta Grossa e Vila Nova, existem evidências de movimentação
neotectônica demonstrando um possível arqueamento de blocos de rocha limitados
por falhas geológicas das bordas da Bacia Potiguar. Alexandre Medeiros defende
que a movimentação ou a acomodação das placas tectônicas tem exercido influência
sobre a formação e evolução, por exemplo, dos cordões litorâneos em
Icapuí.
Isso tem se processado a partir de alterações na profundidade marinha próximo ao
litoral.
Imagens
do fundo marinho mostram o desenvolvimento de batentes com desníveis de alguns
metros que registram movimentações relativamente recentes, e que controlam a
dispersão de sedimentos no fundo marinho em frente a Icapuí. O desenvolvimento e
evolução desses cordões litorâneos também alteram a dinâmica costeira nas suas
proximidades retendo sedimentos por um período e liberando-os em outro, o que
poderia implicar respectivamente em erosão e engorda das praias.
A
dinâmica costeira envolve ainda a retirada e/ou deposição de sedimentos que pode
estar relacionada a causas como a maior ou menor disponibilidade de sedimentos
fornecidos pelos rios próximos, além da ação dos ventos, que também são
importantes para a variação de sedimentos na costa cearense.
Alexandre
explica ainda que, de dezembro até agora, por exemplo, o litoral cearense tem
sofrido a influência do swell, fenômeno que consiste em ondas formadas a grandes
distâncias e caracterizadas pelo seu maior comprimento e período. Essas ondas,
ao se aproximarem do litoral, aumentam em altura, e quando se somam às marés de
sizígia (que ocorrem nas luas nova e cheia) formam as famosas ressacas, que
aumentam consideravelmente a erosão do litoral. Com isso, elas não têm o
amortecimento de energia e chegam com mais força. O swell tem relação tanto com
as ressacas da avenida Beira-Mar, em Fortaleza, como a fúria das ondas
em
Icapuí.
Intervenção humana deve
respeitar a dinâmica do litoral
O
pesquisador ressalta que, no estudo da dinâmica costeira, os fatores que a
alteram não são excludentes, ou seja, intervenções feitas pelo homem também têm
relação com as mudanças. A construção do Porto do Mucuripe, por exemplo, que
barrou a passagem de sedimentos em direção ao litoral oeste da Região
Metropolitana de Fortaleza, é uma das causas para o avanço do mar nas praias de
Iparana, Pacheco e Icaraí.
Por
causa disso, Alexandre ressalta que é importante, no processo de ocupação do
litoral do estado, se preocupar com a dinâmica do mar. Ele lembra que,
independentemente da causa, seja ela alteração geológica, mudança de ventos ou
conseqüência de intervenções humanas, o fato é que o mar e as faixas de areia
estão em constante movimento. “Se durante alguns períodos há depósito de
sedimentos, formação de uma faixa de praia mais extensa e as pessoas ocupam, em
um período de 10 a 15 anos o mar pode voltar a tomar o seu lugar e destruir
essas construções”, explica.
Para
evitar os transtornos periódicos registrados no litoral do estado, com perdas
materiais causadas pela erosão, Alexandre afirma que o ideal seria estabelecer
uma faixa de segurança para ocupação, respeitando os fenômenos associados à
dinâmica do mar. “Essa faixa teria de ser, no mínimo, de 100 metros a contar da
linha da maré mais alta”, conclui.
Fonte: Blog
Camocinlive.com
Visto no blog Peixe Gordo News
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