terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Artigo: Arranje um servicinho pra ele(a) aí..


 


Por Clotenir Rabelo - educador

Há um tempo atrás andando pelas secretarias municipais me subiu meio que o sentimento de Jesus de Nazaré ao entrar no templo e ver a casa Deus cheia de comerciantes, ladrões e exploradores do povo. Sabe aquela vontade e pegar o chicote e sair quebrando tudo, expulsando dos espaços pessoas que em nada contribuem e que se aproveitam das situações? Pois é, foi um sentimento parecido que eu tive, e agora esse sentimento volta a incomodar. 

Nas esquinas da vida, de testemunhos pessoais e do disse-me-disse popular veio como que uma indignação ver e sentir repetições até pouco alardeadas como o pior caminho para uma boa gestão pública, a saber, deixar proliferar sem medidas institucionais o empreguismo no serviço público municipal. Tenho certeza que não faz parte da gestão atual, do seu referencial político de gestão pelo menos, ser conivente com o afamado mau hábito de “dar emprego” de forma desmedida nos prédios públicos. Creio muito mais que os vícios herdados de outras gestões e os “costumes” que o povo tomou para si sejam o estopim desse famigerado processo. Entre o referencial teórico justo e a prática capenga fica aí um vácuo, e nele, quem ganha é a segunda. 

Credito aos interesses individualistas de políticos viciados e de eleitores sem a mínima consciência política o direito de se dar a esse luxo. É realmente de causar indignação que políticos e lideranças, muitas vezes ditas conscientes, nos surpreenda “colocando a faca no pescoço” dos gestores municipais para obrigá-la a reeditar as práticas abomináveis das gestões anteriores, dando emprego sem necessidade de serviços. É ainda mais revoltante que cidadãos de Icapuí se dêem ao disparate de exigir e ficar num “emprego” para fazer nada, pelo simples fato dele não existir, nem em nível de demanda, tampouco de sustentação legal. A imagem que fica é de uma série de prestadores de serviço, sem prestar serviço nenhum, sentados nas cadeiras de secretarias municipais, simplesmente esperando o tempo passar. Uma imagem triste, para quem quer ser diferente no que se refere à gestão pública. 

Ora, quem foi para um emprego onde se apresenta como desnecessário ao quadro do órgão fatalmente vai ficar sobrando. Supérfluo, sem sentido. Vergonhoso para quem o coloca aí, mais ainda para quem aceita estar assim. Aqui nem vou tocar na questão das competências desses funcionários pois daria argumentos sem fim. Ainda que mais séria a questão dos que antes recebiam sem trabalhar, vejo como igualmente sofrível estar num posto de trabalho sem trabalho. Os procedimentos estão totalmente equivocados. Quando se deveria lotar os espaços com servidores concursados primeiro e depois levantar demandas com base na estrutura administrativa da Prefeitura, verificando se há aparato legal para funções e cargos requeridas, para depois, somente depois, ter-se se há ou não necessidade de mais servidor, os políticos querem o contrário. Chegam com seus bem-quereres a reboque, manda todos entrar no emprego e diz descaradamente: “arranje um servicinho pra ele(a) aí....!!!”. 

Tal procedimento desfaz todos os sonhos de qualquer gestor bem intencionado que a princípio deve ser expurgador dessas atitudes malfazejas. O melhor jeito não é inventar funções como muitos já almejam, pelo contrário, é sanar as secretarias municipais de funções sem aparatos de demandas reais. E há muitas nesse Icapuí, e não é de hoje. Tenho certeza que poucos bons e competentes servidores são suficientes para tocar a máquina com qualidade. Os “recheios” só causam má digestão, para não dizer má atuação. 

Digo isso porque já soam rumores de concurso e reforma administrativa e por estes instrumentos pode-se cair na tentação de criar funções e cargos para simplesmente contemplar nossos bem-quereres e não para qualificar o funcionamento da gestão pública. Esse procedimento é bem pior do que ficar num emprego que não tem função. Ciente de que muitos apelos por empregos se dá pela ausência deles no município, e todos precisam trabalhar – repito, trabalhar – prefiro dizer que se procure outros modos de atender esses desejos e não cair em erros já atestados. Seria burrice. 

Como não posso pegar o chicote e sair corrigindo essa faltas que cedo precisam ser corrigidas, deixo aqui minhas “lapadas”, fruto de muitas que levei na vida profissional e acadêmica até aprender a compreender as coisas dessa forma, a ter concepções mais corretas sobre o valor e importância do serviço público para o povo. Como na vida a gente aprende assim, com esforço e superação, deixo também meus sentimentos de esperança, dom maior que ninguém vai me tirar, em especial porque acredito muito na reconstrução da cidadania em Icapuí.

Visto no blog A Cidadede Icapuí

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