sábado, 3 de dezembro de 2011

Especialistas explicam como produzir energia sem agredir a floresta

Se os pesquisadores buscam minimizar os impactos de barragens, não podemos nos esquecer que a vida selvagem também tenta resistir.


Em outubro, o rio baixo revela praias de areia muito fina. É o momento que várias espécies aguardam para se reproduzir.

Na época da seca, as praias do Rio Tapajós se transformam em berçários das aves aquáticas. O talha-mar e o trinta-réis se reproduzem em uma delas. Caminhar pelo lugar é como pisar em um campo minado. São tantos ovos pelo chão que é preciso tomar cuidado para evitar quebrar um ou outro e, o tempo todo, acabamos ficando sob o ataque das as aves que tentam fazer com que a gente saia.

Quando se trata de defender a vida, essas aves se tornam valentes e não medem o tamanho do invasor. Os ataques vêm de todos os lados. Os ninhos são pequenos buracos, têm de dois a quatro ovos. Macho e fêmea se revezam no chocar. Se bem que esse é um trabalho feito pela areia quente. As aves precisam até trazer um pouco d'água para evitar um superaquecimento.

Por perto, há uma praia deserta. Mas em questão de dias vai se tornar pequena, a julgar pela quantidade de tartarugas que se aglomeram na água. As tartarugas da Amazônia aguardam o comando da natureza para iniciar o ritual da desova. Uma das espécies é um dos répteis mais antigos da face da Terra. Existe desde o tempo dos dinossauros. Não podemos esperar o início da desova delas. Mas o fato de o ritual de reprodução se repetir a cerca de 180 milhões de anos nos enche de esperança. Em um período de tempo tão longo, quantas agressões essa espécie suportou. É um exemplo de resiliência, a capacidade de suportar uma agressão e se adaptar.

Se os pesquisadores buscam minimizar os impactos da construção de barragens, não podemos nos esquecer que a vida selvagem sempre tenta, também, resistir.
“Os dados que estão sendo coletados irão subsidiar um mapa estratégico das áreas de importância biológica dessa região. Mas não podemos abrir mão do crescimento, tampouco da conservação do nosso patrimônio de biodiversidade”, diz o diretor de pesquisa do Instituto Chico Mendes, Marcelo Marcelino.

Conciliar desenvolvimento e meio ambiente não é uma tarefa fácil. Como produzir energia sem agredir a floresta?
“É fundamental que a gente conheça a nossa biodiversidade. É fundamental também que os empreendimentos sejam planejados de forma responsável, com qualidade, e levando em consideração toda essa biodiversidade existente, de forma que o empreendimento aconteça com o menor impacto possível sobre a biodiversidade. As pesquisas continuarão sempre”, reflete o presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Mello.

Talvez ninguém consiga ainda enxergar uma solução para esse impasse. Mas, na Amazônia, coisas bem difíceis costumam acontecer. Se alguém pedisse a você para encontrar um passarinho com 6,5 centímetros na Floresta Amazônica, você acreditaria ser possível achá-lo? Difícil, não é mesmo?

Mas a vida surpreende e nos mostra que vivemos em um mundo onde as possibilidades são sempre infinitas.

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